A fertilização in vitro (FIV) é uma técnica de reprodução assistida que consiste na colocação, em ambiente laboratorial, (in vitro), de um número significativo de espermatozóides, 50 a 150 mil, ao redor de cada óvulo, procurando obter embriões que serão transferidos, posteriormente, para a cavidade uterina.
Uma variação da técnica quando a contagem de espermatozóides e muito baixa é a ICSI, que consiste na injeção intracitoplasmática de um espermatozóide no óvulo.
Para a execução desta técnica exige-se uma prévia estimulação ovárica (ovariana) através de medicamentos adequados (gonadotrofinas: FSH e LH) e acompanhamento médico regular (exames de ultra-som transvaginal e dosagens hormonais seriados), de forma a controlar os efeitos dessa estimulação e definir o melhor dia para a coleta dos óvulos. Cerca de 34 – 36 horas antes dessa coleta(ou captação) é administrada uma injeção (hcg ou LH recombinante) que provoca a maturação ovocitária, Essa captação é realizada com a ajuda do ultra-som trans vaginal, que auxilia o médico a guiar a agulha em direção aos folículos ovarianos que contêm os óvulos. Os óvulos assim obtidos são encaminhados ao laboratório de embriologia, anexo à sala de coleta, onde serão classificados e ambientados em um meio de cultura especial, sob condições de temperatura e pressão constantes (estufas especiais). Quanto aos espermatozóides, estes são obtidos após uma coleta por masturbação ou nos casos de vasectomia, sob analgesia tipo sedação se faz uma punção para aspiração dos mesmos (do epidídimo), são escolhidos os melhores em termos de motilidade e forma. Destes são seleccionados cerca de 50 a 100 mil, com mobilidade progressiva rápida, para serem colocados ao redor de cada ovócito. Quando há problemas graves com a quantidade ou qualidade dos espermatozóides, e o número é insuficiente para a fertilização in vitro convencial, considera-se a alternativa da realização de uma microinjecção intracitoplasmática de espermatozóides (ICSI)
Após cerca de 16-18 horas os ovócitos são observados para identificar o estado de fecundação e eventual progressão até pré-embriões de alguns deles. Já sabemos que após a fecundação (fertilização) forma-se o zigoto. A partir desse momento inicia-se a divisão celular para a formação do que denominamos pré-embrião. Assim, 24 horas (1 dia) depois da fertilização teremos pré-embriões com 2 células, após 48 horas (2 dias) teremos 4 células, após 72 horas (3 dias) teremos 8 células e assim por diante, numa divisão celular em progressão geométrica.
A transferência desses pré-embriões para a cavidade uterina é então efetuada através de um fino tubo de plástico especial (catéter), após 2 a 5 dias da coleta dos oócitos. Normalmente transferimos 2 a 3 pré-embriões para a cavidade uterina. Entretanto, esse fato depende da idade da mulher e da qualidade dos pré-embriões. Assim, cerca de 10 a 12 dias após a transferência, fazemos o exame de sangue (dosagem de beta-hCG) na mulher, para identificarmos se a gravidez está presente.
Indicações:
Patologia tubária
Obstrução tubária bilateral, lesão tuboperitoneal moderada/ grave, ausência congênita ou cirúrgica de tubas. Em algumas situações é possível indicar a salpingoplastia em primeira instância levando-se em conta o grau de comprometimento do oviduto, a fertilidade masculina, a idade feminina e a habilidade cirúrgica da equipe médica.
Alteração da anatomia pélvica com comprometimento tubário por endometriose.
Alterações seminais
Oligoastenoteratospermia moderada/grave, azoospermia obstrutiva, azoospermia germinativa. A maioria dessas condições exige a aplicação da injeção intracitoplasmática de espermatozoide (ICSI), particularmente as azoospermias. Essa técnica propiciou o aparecimento de vários procedimentos cirúrgicos para obtenção de espermatozoides do epidídimo e/ou testículo, revertendo à fertilidade a uma legião de homens até então considerados estéreis.
Alterações morfofuncionais dos ovários
Ausência congênita ou cirúrgica, falência ovariana precoce, refratariedade de receptores gonadotrópicos — estados clínicos que selam a possibilidade da mulher engravidar. Graças ao programa de ovulodoação, a paciente pode resgatar sua fertilidade.
Comprometimento uterino
Ausência congênita ou cirúrgica do útero, sinequia extensa, metrose de receptividade, adenomiose grave etc. Nesses casos a indicação é a cessão temporária do útero de uma parente próxima, procedimento permitido pelo Conselho Federal de Medicina(CFM) desde 1992.
Doenças genéticas
O diagnóstico genético pré-implantacional (DGPI) realizado mediante biópsia embrionária foi uma grande conquista aplicada na FIV, permitindo a transferência de embriões saudáveis e mitigando o sofrimento de inúmeros casais. Atualmente as doenças oriundas de anomalias estruturais ou gênicas podem ser reconhecidas pela técnica de FISH ou PCR, respectivamente, com índice de acerto elevado.
Adversidade imunológica
A presença de anticorpos antiespermatozoides no homem ou na mulher pode interferir na fecundação. Antes da FIV, os tratamentos eram insatisfatórios, valendo-se da abstinência sexual ou uso de preservativo por período de 6 a 12 meses para dessensibilizar a barreira imunitária; ou ainda o uso de corticoide em alta dose com o objetivo de promover imunossupressão. Felizmente, o advento da ICSI trouxe um novo alento, de tal sorte que o índice de fertilização dos óvulos se assemelha ao de outras causas de infertilidade.
Doença metabólica grave
Alguns quadros clínicos como a síndrome plurimetabólica grave contraindicam a gravidez em decorrência do alto risco maternofetal. Essa condição requer a transferência de embriões para uma mãe substituta.
Neoplasia maligna em idade reprodutiva
Cada vez mais, cresce a procura para a preservação da fertilidade em mulheres acometidas por doença neoplásica. Uma das mais preocupantes é o câncer de mama que está aparecendo em idade mais precoce, acometendo a mulher em plena fase reprodutiva. Hoje existe a vitrificação de oócitos antes de radioterapia ou quimioterapia. Os oócitos dependem da FIV quando a mulher for liberada para engravidar. Recentemente, o congelamento de oócitos pelo método de vitrificação tem dado resultados espetaculares, com taxa de recuperação de 80% a 90% e taxa de gravidez similar à de embriões frescos.
Relacionamento homoafetivo
A sociedade contemporânea está vivendo grandes transformações sociais, de tal sorte que o conceito de família está mudando gradativamente. É compreensível que duas pessoas do mesmo sexo nos procurem com o objetivo de ter filhos, e isso pode envolver os recursos da FIV para atingir tal objetivo.